Lidando com as férias escolares em seu Home Office
Não ter com quem nem onde deixar os filhos na hora de ir trabalhar é um problema que muitas mães precisam enfrentar todos os anos durante o período de férias escolares. Existe uma categoria profissional, no entanto, que está ganhando força no mercado e que começa a se deparar com uma variação desse dilema. São os profissionais que trabalham em casa, no modelo home office, e que precisam se desdobrar para continuarem sendo produtivos e eficientes mesmo com as crianças por perto durante todo o tempo.
Além de economia para as empresas, o trabalho remoto pode aumentar a qualidade de vida dos funcionários, que evitam o trânsito e podem cumprir o expediente com mais flexibilidade e autonomia. Para funcionar corretamente, porém, a ferramenta necessita de regras e disciplina – que ficam muito mais difíceis de serem mantidas quando os pequenos estão bem ali chamando por você.
Não por acaso, um estudo global realizado recentemente pela consultoria Regus com 24 mil profissionais em 90 países, revelou que os três maiores obstáculos de quem trabalha em casa são:
- Ter crianças e familiares exigindo atenção (59%)
- Dificuldade de concentração (43%)
- Crianças, familiares e animais de estimação que atrapalham ligações telefônicas (39%)
No Brasil, esses três índices são ainda maiores e atingiram 64%, 44% e 44%, respectivamente.
Período de férias gera transtornos no Home Office
Para o diretor geral da Regus no Brasil, Guilherme Ribeiro, as crianças acabam sendo uma grande distração para a prática do home office, e isso é potencializado nas férias. É essencial, portanto, buscar formas para contornar essa situação, como intercalar o trabalho em casa com o expediente na empresa ou em um local neutro.
Além disso, é importante ter um ambiente isolado na casa que possa ser transformado em escritório e planejar atividades para os filhos quando não é possível conciliar as férias de toda a família. “Com os maiores é mais fácil negociar, mas mesmo os pequenos precisam entender que quando você está em um determinado cômodo da casa, por exemplo, significa que está trabalhando”, explica.
É o caso de Miriam Kimura, consultora sênior de aquisição de talentos na Dell para a América Latina. Ela montou um escritório em casa, de onde atua a maior parte do tempo, e que chama de “território de trabalho da mamãe”. Desse modo, seu filho de três anos já sabe que não pode brincar ali. “Delimitar um espaço formalmente ajuda bastante”, afirma. Segundo Miriam, seu filho já se acostumou com a situação e respeita, por exemplo, quando ela pede silêncio quando precisa falar ao telefone.
O expediente de Miriam geralmente segue o horário comercial padrão e, durante esse tempo, seu filho fica na escola. Mesmo assim, é preciso ter flexibilidade para atender tanto demandas profissionais – uma vez que ela fala com pessoas de toda a América Latina e lida com diferentes fusos horários – quanto pessoais. “Às vezes, tenho que me organizar para poder começar mais cedo, terminar mais tarde ou fazer uma pausa mais longa sem me prejudicar”, diz.
Para não deixar o ritmo cair nos meses de férias escolares, quando o filho fica em casa durante o dia, a consultora ressalta que é fundamental contar com alguma ajuda externa, seja de babá ou de parentes. “Supervisiono a distância e deixo claro que, embora esteja em casa, não posso ficar sendo acionada por qualquer motivo. Meu filho aproveita meus intervalos para vir me visitar”, brinca.
Conciliando a função de mãe com o escritório em casa
A gerente de marketing para a área de sorvetes da Unilever, Mariana Maggioli, tem uma filha também de três anos e vai ser obrigada a transformar seu escritório no quarto do segundo filho, que chegou recentemente. Como trabalha em casa cerca de duas vezes por semana, ela conta com uma babá em tempo integral e com a ajuda da mãe e da sogra. “O importante é entregar resultado. Tenho disciplina, consigo me organizar e me adaptar facilmente”, afirma.
Mariana planeja um curso de férias de meio período por duas semanas para ocupar a filha. “Se a situação em casa estiver crítica, corro até o café do outro lado da rua para fazer as ligações mais importantes e depois volto”, brinca a executiva que faz malabarismos para conciliar a função de mãe e o home office. Ela também lida com uma equipe no México e vez ou outra precisa fazer teleconferências por volta das 20h, mas não reclama. “Ter a possibilidade de trabalhar remotamente foi um dos fatores que mais me motivaram a ter o segundo filho”, revela.
Organização é fundamental
Guilherme Ribeiro, da Regus, ressalta que os profissionais brasileiros geralmente têm o privilégio e a facilidade de poder contar com a ajuda de familiares e até de babás nesses casos – coisa bastante rara nos Estados Unidos e na Europa. “Por outro lado, no exterior é muito comum deixar os filhos em creches de período integral e, nas férias, mandá-los para os chamados acampamentos de verão por alguns dias”, explica.
O essencial, segundo ele, é planejar atividades para entreter os filhos durante o período de folga e organizar a rotina profissional em torno disso. “Além de se distraírem, as crianças gastam energia e também ficam mais calmas depois. Assim, é possível trabalhar com mais foco e menos estresse”, ensina.
Na Kimberly-Clark, o incentivo ao trabalho remoto foi intensificado com um projeto lançado cerca de um ano atrás. Todos os que não necessitam das ferramentas de dentro do escritório para cumprirem suas funções são elegíveis. “O gestor de cada área avalia quais seriam os profissionais que poderiam se encaixar no modelo e nos indica”, explica a diretora de recursos humanos da empresa, Ana Bogus.
Segundo ela, não existe uma meta definida para o programa, mas o ideal é que os participantes trabalhem de casa uma vez por semana – uma vez que a Kimberly-Clark oferece todo o apoio e a estrutura necessária para isso. A própria executiva, que tem um filho de um ano e meio, é uma das beneficiadas. “No começo, é importante orientar também os adultos que estão na casa, caso contrário a probabilidade de você ficar sendo o tempo todo sendo interrompida é grande. Mas, rapidamente, todos entendem a dinâmica e o funcionamento das coisas”, afirma.
Ana não pensa em como a prática do home office vai ser afetada quando seu filho começar a ter férias, pois ele ainda é muito pequeno e fica praticamente todo o tempo em casa. Mas sua colega de Kimberly-Clark, a gerente de talent management Fernanda Abrantes, já tem alguma experiência no assunto. Mãe de gêmeos de cinco anos de idade, ela garante que consegue trabalhar sem maiores problemas e que os dois já entendem quando ela não pode dar atenção. “Se estou no meu espaço reservado, eles não demandam muito. Basta ter alguém em casa para olhá-los.”
De qualquer maneira, estas serão as primeiras férias dos gêmeos desde que o projeto foi implementado na empresa, e só então a executiva vai ter certeza de que tudo sairá como previsto. Atualmente, Fernanda trabalha em casa a cada 15 dias, mas um de seus objetivos para 2013 é fazer isso semanalmente. “Sinto-me realizada quando tenho um dia de trabalho produtivo e, ao mesmo tempo, estou perto dos meus filhos”, afirma.
Por Rafael Sigollo